Com mecânica simples, mas
eletrônica embarcada complexa, há a necessidade do reparador utilizar
material de apoio técnico para que possa realizar reparos no veículo com
a segurança necessária
Pesquisando em suas origens, descobrimos
que a GM Captiva não é um puro veículo da ‘marca da gravata’, mas sim um
modelo desenvolvido pela Daewoo, fabricante sul-coreana pertencente à
General Motors. Trata-se de um projeto de 2006, baseado no carro
conceito S3X, mostrado em salões ao redor do mundo em 2004.
O carro é o que se costuma chamar de utilitário esportivo (SUV), embora possa ser considerado também um crossover.
No Brasil, o carro começou a ser vendido em 2008 e permanece em
catálogo até hoje. É importado do México, e por conta de acordos
comerciais entre os dois países tem direito a impostos menores se
comparado aos concorrentes asiáticos e europeus, o que torna seu preço
bastante competitivo.
No que tange às características técnicas, a Captiva é um carro
moderno, com destaque para as boas notas em testes de colisão.
Estruturalmente se assemelha bastante ao Vectra e seus derivados, a
suspensão conta com o robusto quadro dianteiro característico da GM e a
traseira é independente, do tipo multilink, com quatro braços. O motor é
o conhecido Ecotec 2.4, da mesma família do utilizado no Cruze, embora
versões anteriores pudessem vir também com motores V-6 em duas versões,
uma 3.0 e outra 3.6, esta última também utilizada no Omega. Estas
versões com motor seis cilindros podem ser 4x2 ou 4x4 de acionamento
automático. Já a transmissão pode ser de quatro ou seis velocidades,
ambas automáticas, fabricadas pela própria Chevrolet.
DEFEITOS RECORRENTES
Para sabermos como se comporta a reparação da GM Captiva no dia-a-dia
das oficinas de reparação independentes, visitamos a Mecânica Jozi e
lá, conversamos com o reparador e proprietário Michel Batista Iaras de
33 anos de idade (FOTO 1). Michel é reparador automotivo desde 1995 e
herdou a profissão de seu pai, assim como a parceria na oficina.
Curiosamente, Michel formou-se em Publicidade e Propaganda e chegou a
trabalhar com gestão de frotas por um tempo.
O reparador comentou que atende veículos de todas as marcas e tem uma
média de 75 carros por mês visitando sua oficina para a realização de
serviços diversos. “Atendo muitos, inclusive de algumas frotas, portanto
acho importante me especializar. Com isso já realizei diversos cursos
no SENAI e já estou lá há quatro anos consecutivos estudando para não
ficar para trás no mercado de reparação”, disse Michel.
Em sua oficina estava uma GM Captiva V6 AWD apresentando problemas
para dar partida. “Eu recebi a ligação da seguradora informando que o
proprietário do veículo havia ido para o interior da cidade em um dia e,
na manhã seguinte, o motor não deu partida. A seguradora avaliou que
não era problema de bateria, mas sim na ignição e resolveu rebocar o
carro até minha oficina para realizar o serviço. Quando o veículo chegou
aqui, detectamos que as bobinas estavam avariadas (FOTO 2) e foi
necessária a troca destas para solucionarmos o problema”.
Michel disse que já atendeu algumas Captiva e o modelo costuma
apresentar defeitos diversos. “Atendo destes carros já há algum tempo.
Peguei alguns casos em que o coxim direito do motor estava quebrado e
outros de revisão simples. Lembro-me também de em que o veículo estava
apresentando um problema aparentemente grave, pois o proprietário veio
reclamando que, quando o carro estava em uma ladeira, ao soltar o freio
de estacionamento e colocar o câmbio em “Drive” para sair, este
apresentava um tranco forte. Assim, ele acreditou que o problema
estivesse no câmbio, mas nós avaliando descobrimos uma falha no sistema
de freio estacionamento eletrônico (FOTO 3) que demorava a desacionar.
Efetuamos o reparo neste, reprogramamos com scanner e conseguimos
resolver o caso por um custo muito inferior ao que seria se o problema
fosse realmente no câmbio”.
Michel disse que a partir dos 40.000km estes veículos já começam a
visitar as oficinas independentes, mas aconselha os proprietários a
fazer manutenções preventivas a cada 10.000km. “Aconselho a sempre
realizar manutenções preventivas. Neste tipo de veículo, principalmente,
pois é nelas que detectamos pequenos problemas que podem se tornar
grandes, trazendo uma enorme ‘dor de cabeça’ e alto custo de reparação”.
Michel considera a parte eletrônica da Captiva bastante complexa, mas
a mecânica não carrega segredos. “É um carro que não dá para encostar
na parte eletroeletrônica, principalmente no painel (FOTO 4) sem um
esquema elétrico, no entanto, possui uma mecânica bem simples que é
bastante prazerosa de trabalhar”.
No fórum do jornal Oficina Brasil, também observamos que a parte
eletrônica ainda é segredo para muitos profissionais. “Estava com uma
Captiva V6 em minha oficina com várias luzes de avaria ligadas, como a
do 4x4, stablishtrack, airbag e motor, mas não consegui ajuda na
montadora para resolver o caso”, disse Lorram.
Já Rafael Cássio Aguiar, também através do Fórum, comentou que esteve
com uma Captiva em sua oficina que apresentou falha após pegar uma
chuva. “Quando o controle de estabilidade estava ligado, acusava no
painel para realizar manutenção no Stablishtrack”. Prontamente recebeu a
primeira dica do reparador Scopino. “é muito comum apresentar mau
contato na ECU do ABS/ESP, portanto confira o conector”, aconselhou. Já o
reparador Fabio Fell comentou que já teve problema semelhante, mas a
causa era ‘inacreditável’. “Pode duvidar, mas já esteve em minha oficina
duas Captiva que acusaram o mesmo problema. Sabe qual era a causa? Pneu
traseiro esquerdo descalibrado ou rodando com estepe de diâmetro
diferente na posição. Nem eu quis acreditar quando solucionei a falha
dessa forma”, contou o reparador.
Michel comentou que, embora a Captiva tenha mecânica simples, tem
acesso complicado às peças. “Por exemplo, para retirar o motor de
arranque, é necessário remover catalisador, sensor dentre outros, pois o
espaço no cofre do motor é reduzido (FOTO 5)”.
Se o motor não dá dor de cabeças, a transmissão é o calcanhar de
Aquiles deste veículo. “Conheci alguns reparadores que pegaram defeitos
nesta transmissão (FOTO 6). Normalmente ela costuma dar estalos fortes,
sendo necessários reparos no conversor dentre outras peças, sem contar
que, para tirar este câmbio só removendo a suspensão completa”, explicou
Michel.
Ainda falando em transmissão, buscamos um reparador especializado
para entender melhor o que acontecia com o veículo. Assim, pedimos ajuda
a César Sanches, sócio na oficina Automatik, fundada em 1991, situada
no Jardim Anália Franco, em São Paulo-SP.
César conta que a maior incidência de problema ocorre no câmbio de
seis marchas 6T70, utilizado nas versões 4x4 e 4x2 das Captiva V6
fabricadas até 2010. Segundo ele, os sintomas começam a se manifestar
entre 30.000 e 60.000km. “A princípio pode-se notar alguns trancos nas
mudanças, dificuldade na progressão e na redução das marchas, e logo em
seguida o câmbio entra em modo emergencial ou simplesmente deixa de
funcionar”, disse.
O problema, segundo César, é um anel-mola de aço que quebra, e os
fragmentos se espalham pelo interior da transmissão, danificando
diversos componentes, principalmente o eixo de entrada, feito em
alumínio. “Estes fragmentos podem, inclusive, romper a rede de proteção
do módulo eletrônico e causar um curto-circuito que obriga a
substituição desta peça, de custo bastante elevado”, explicou o
reparador.
De acordo com César, a Chevrolet revisou este componente (anel-mola) e
o disponibiliza ao mercado de reposição, contudo, nem sempre a
substituição - no caso de uma reforma – é feita pelo novo componente, às
vezes é utilizado um anel-mola da primeira versão, o que fatalmente
fará o problema se repetir. O reparador conta, inclusive, que costuma
fazer a substituição preventiva deste componente, em transmissões que
sequer apresentaram problemas ainda. “Apesar da incidência maior de
problemas no câmbio de seis marchas 6T70, o de quatro marchas também
costuma apresentar falhas com pouca quilometragem percorrida. Porém, no
caso da transmissão de quatro velocidades, o defeito está no conjunto de
engrenagens planetárias, um componente bastante robusto na sua
concepção, que não costuma apresentar problemas em uma transmissão
automática, exceto depois de muito tempo de uso. Mas especificamente
nesta transmissão pode ocorrer a quebra prematura do conjunto devido a
uma provável falha no tratamento térmico dessas engrenagens”, cogita
César.
Quando falamos em sistema de freios (FOTOS 7 E 7A), Michel disse não
ter tido dor de cabeça. “Só fiz manutenções devido ao desgaste comum”.
Já a suspensão dianteira da Captiva é bem semelhante ao de outro
veículo da marca. “É bem parecida com a do Vectra com aquele quadro mais
“quadradão” (FOTO 8), bandejas e buchas bem parecidas (FOTOS 8A E 8B), o
suporte do câmbio, a caixa de direção em cima do quadro, enfim, parece
um Vectra crescido”, observou Michel.
AR-CONDICIONADO
A Chevrolet Captiva é dotada de um sistema de ar condicionado com uma
caixa evaporadora e sistema com válvula de expansão e filtro secador.
Possui compressores de cilindrada fixa nas duas versões de motor a
gasolina (2.4 e 3.6) e na versão diesel (Argentina) (FOTO 9 E 9A).
A capacidade de fluido refrigerante R134a é de cerca de 520g e cerca de 150 ml de óleo PAG 46 (FOTO 10).
O filtro antipólen tem o seu acesso atrás do porta-luvas e recomenda-se sua substituição a cada 6 meses, dependendo do uso.
O sistema de reciclo pode vir a travar devido a desgaste do mecanismo
e isso pode acarretar pane no sistema de ar-condicionado, detectado com
um scanner como tensão muito alta no servomotor da recirculação (FOTOS
11, 11A E 11B).
Para acessar com o Scanner, eventualmente pode ser necessário entrar
com o modelo ANTARA da OPEL e não como CAPTIVA da GM (FOTO 12).
O sensor de temperatura de anticongelamento do evaporador
eventualmente pode apresentar problemas e possibilitar o congelamento do
evaporador em viagens (FOTO 13), prejudicando a eficiência e pode
também em casos extremos possibilitar o retorno de fluido refrigerante
no estado liquido para o compressor e comprometer a sua durabilidade.
Este problema não é detectado como “ERRO” no scanner, é necessário
acessar os valores reais para verificar e comparar os valores.
O painel de comando é simples (FOTO 14), com mostrador analógico,
apesar de ter atuadores das portinholas com motores elétricos. E função
“AUTOMÁTICO” para direcionador de ar e velocidade do vento.
O ventilador interno é de fácil acesso e seu controle é feito por um módulo de velocidades (FOTO 15).
O sensor de temperatura externa fica na frente do condensador atrás do para choques (FOTO 16).
O sensor de pressão, transdutor de pressão de 3 pinos, fica na linha
de alta que sai do compressor, ele monitora as pressões da linha de
alta e comunica –se diretamente com o módulo de injeção (FOTOS 17 E
17A).
As conexões de serviço de alta e baixa pressão são de fácil acesso, na lateral direita do motor (FOTO 18).
O filtro secador fica dentro da lateral do condensador na forma de
cartucho. Para sacar o condensador não é necessário retirar o para
choques. Em viagens o condensador fica um tanto vulnerável e pode vir a
furar com pequenos objetos soltos na pista (FOTOS 19 E 19A).
A válvula termostática de expansão é de fácil acesso atrás do motor e
ela pode apresentar problemas de travar seu pistão e bloquear a
passagem do fluido refrigerante. Na leitura dos manômetros a pressão de
baixa fica tendendo a “pressão zero” (FOTOS 20 E 20A).
Colaborou:
Mario Meier Ishiguro “ISHI”
ISHI AR-CONDICIONADO AUTOMOTIVO
TREINAMENTO E SERVIÇOS
+55 (47) 3264 9677
www.ishi.com.br
PEÇAS E INFORMAÇÕES
Sobre o tema de maior importância e influência à rotina do reparador
independente, Michel comentou que gosta do veículo por diversos motivos,
mas ele apresentar alto consumo e ter pouca disponibilidade de peças na
concessionária são complicadores. “É um carro muito confortável, com
motor forte, mas muito ‘beberrão’, pois faz no máximo 4km/l de gasolina
na cidade. É resistente, gosto de trabalhar, mas se depender da
concessionária para alguma peça, chego a ficar de cinco a sete dias com o
carro parado esperando o item chegar da fábrica”.
No entanto, o mercado de reposição tem boas peças para o veículo. “Se
for comprar amortecedores para ela, você encontrará de três ou quatro
diferentes fabricantes no mercado independente. Todos de fabricantes
renomados”, explicou Michel.
Mas, mesmo assim, a rotina de compra do reparador ainda é focada na
montadora. “Só adquiro peças em autopeças quando não encontramos nas
concessionárias. Com elas (concessionárias) temos um bom desconto e a
segurança de um item de qualidade, portanto, compro cerca de 80% com
eles e as demais, divididos entre autopeças e distribuidores”, disse
Michel.
Quanto às informações técnicas para os veículos GM, o reparador disse
não ter dificuldades e consegue praticamente tudo o que precisa no site
Reparador Chevrolet, exceto a Captiva. “Lá tem bastante coisa para o
reparador independente, embora para Captiva ainda não tenham
informações. Assim, quando preciso de algo para a manutenção dela ou de
outro veículo que não tenha no site, verifico com o Sindirepa, no Fórum
do jornal Oficina Brasil ou então com reparadores amigos para ajudar com
o que estou precisando. Com a Captiva mesmo já precisei recorrer a
vários e nunca tive grande dificuldade no reparo”.
INDICA O VEÍCULO?
Questionado se recomenda ou não o modelo, César ressalta algumas
qualidades do carro, como o conforto, a segurança e o preço competitivo,
porém, tendo em vista os problemas apresentados no sistema de
transmissão, sobretudo nas caixas de seis velocidades empregadas nas
Captiva V6 fabricadas até 2010, ele considera que o comprador deve
analisar outras opções disponíveis no mercado antes de se decidir.
Michel também seguiu a mesma linha de raciocínio e disse que a
Captiva é um veículo que ele indica, mas que sempre faz ressalvas quanto
aos recorrentes problemas de transmissão nos modelos fabricados até
2010. “Sempre digo que é um bom carro e de mecânica simples, no entanto,
aconselho a fazerem um test-drive nos modelos usados dessa época antes
de fechar negócio e, se perceberem algo estranho, partirem para outra
opção a fim de evitar maiores sofrimentos lá na frente”, finalizou.
LEGENDA GM Captiva - Estrutura robusta, diversos itens de conforto e segurança e um preço acessível a tornaram popular
FONTE: WWW.OFICINABRASIL.COM.BR